Apego e Liberdade: o que o Caminho nos ensina!

08-06-2020



Sabemos que fazer a mochila para seguirmos para o Caminho é um convite a repensarmos o que é essencial e acessório. Esse é o desapego mais óbvio e factual. 

Mas na verdade, quando partimos desapegamo-nos de muito mais... das pessoas que amamos mas que não nos acompanham, das rotinas que são sentido de previsibilidade, dos estatutos que protegem o nosso ego socialmente construído, dos papéis de vida que evitam os vazios, das narrativas internas e externas que diariamente repetimos e que, no caminho, não são necessárias... 

Todos estes apegos são aquilo que dão conteúdo e objetivo ao nosso quotidiano. Mas quantas vezes percebemos que acumulamos demasiados objetos, demasiados compromissos, demasiados papéis, demasiadas histórias sobre nós e sobre os outros, demasiadas expectativas, demasiadas críticas internas... tudo porque desapegar é deixarmo-nos entrar no vazio, é confrontar a existência sem o eu socialmente construído, é correr o risco de deixar ir todo o ruído e não saber o que procurar nem o que podemos encontrar em nós.

A oportunidade de nos vermos para além de todas estas referências é um convite a aprofundar o sentido de existência. Se eu deixar de ser cuidadora dos meus filhos, ainda existo? Se eu deixar de ser a profissional que todos os dias dá o seu melhor, ainda existo? Se eu deixar de ser a imagem que costumo ver ao espelho, ainda existo? Se eu deixar de ter a casa, o carro ou os objetos que representam o meu sucesso e posição socioeconómica, ainda existo? Se eu deixar de ser o resultado daquela história de dor do passado, ainda existo? Se eu deixar de cumprir aquelas tarefas e rotinas tão úteis diariamente, ainda existo? (Cada um de nós saberá que pergunta fazer a si próprio neste questionamento sobre a existência para além da referência identitária). 

No fundo, a questão central será: se deixar de existir aquilo que eu acho que me define, eu existo apesar disso? Diria que no Caminho podemos até testar novas formas de existir ou se formos brindados com mais profunda das revelações percebemos que existimos em conteúdo, sem que seja necessária uma forma. Existimos e pronto (e ponto).

E a partir do momento que sabemos existir para além de tudo isto, sentimos a verdadeira liberdade. Liberdade pela independência da existência mas também pelo poder de escolha. 

Nesse estado de liberdade posso escolher os apegos que servem a minha existência e deixar de existir para servir os apegos em que me vi diluída, por pressões relacionais específicas, expectativas irrealistas ou mecanismos automatizados para termos validade social. Podemos escolher cada apego, materializado num objecto, numa relação, numa causa, numa intenção, numa missão... apegos sem a falácia da dependência. 

Existimos para além deles, mas escolhemo-los, carinhosa e escrupulosamente, para serem fontes de elevação e felicidade! 

© 2020 Patrícia Labandeiro. Todos os direitos reservados.
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